domingo passado a danuza leão escreveu isso na folha. o momento não poderia ser melhor pra rolar uma identificação. vontade de mandar pra taaaaaanta gente.
(obs: reticências e negritos meus)As datas
DANUZA LEÃO
24/06/2007
Aniversário: sempre o mesmo problema. Quando você é criança é ótimo. Em primeiro lugar não se vai à escola, e em segundo tem os presentes. Pai, mãe, tios, avós, padrinhos, todos perguntam o que você gostaria de ganhar, e no dia da festa a cama ficava cheia de embrulhos - ô coisa boa. Depois, tinha a festa, com direito a convidar todos os amigos, sem limite. O bolo era normal - nada de campo de futebol com os jogadores -, e como decoração, no máximo, umas bolas de soprar; e precisava mais?
Com o tempo passando, as coisas foram se complicando: quem tem mais de 10 anos acha uma babaquice bolo com velas, e quer que a festa seja numa discoteca, com som techno e tudo. E as meninas vão feito umas anãzinhas, de botinha de salto alto, unhas pintadas e maquiagem feita por um profissional do ramo - o efeito Xuxa. Depois dos 11, 12, existe a azaração e a ficação, para desespero das mães e dos pais, que aliás são proibidos de pisar no recinto da festa (...)
Aí se chega aos 30, 35, e a opção costuma ser jantar com casais num restaurante da moda, ou uma amiga oferece um jantar. (...)
Mas um dia você se vê às vésperas do tal aniversário sem ter a mais vaga idéia do que vai fazer e sem nenhuma vontade especial de nada. Quer estar com seus maiores amigos? (...) Quer ganhar presentes? (...) Que tal ficar sozinha em casa como se fosse um dia qualquer?
Difícil: e se cair numa deprê? Se pudesse combinar de jantar com um amigo sem que ele soubesse que é seu aniversário talvez fosse uma solução, mas não vai escapar dos telefonemas de parabéns, e sobretudo da pergunta repetida 30 vezes: E vai fazer o quê? Muito difícil a vida.
Ninguém se conforma com a resposta "Não sei, não combinei nada". Como, não sabe? Fica difícil explicar que tanto faz, que vai passar um dia como todos os outros e que se for para casa sozinha pode também não cair em depressão alguma, e pensar com um certo orgulho que superou certas convenções, certas datas.
Mas já que ficou convencionado que no dia do aniversário se tem certos direitos, comece pelo mais elementar: tire o telefone do gancho. Peça uma comida bem boa por telefone, faça um uísque e ponha um belo de um CD (um Chet Baker, por exemplo) e comece a se preparar para ser feliz; pense em como é bom não ter que brindar com ninguém, não ter que agradecer as felicidades e os felizes aniversários que te desejam. Ficar quietinha com você mesma - nem eufórica, nem deprimida. Apenas tomando um uísque sozinha, que é uma das coisas mais agradáveis que existem.
Vá para a cama cedo, lá pelas 11, tendo a felicidade de se achar uma pessoa sensata, equilibrada e em paz com a vida. E se for preciso, tome um tranqüilizante: geralmente é. No dia seguinte se prepare, pois a galera do trabalho não esquece nunca; mas proíba que cantem o parabéns pra você, pois existem limites para tudo. E lembre de que, agora, só daqui a um ano - que felicidade.