por falar em clube da luta...
do rabisco:

SOBREVIVENTE
Segundo livro do autor de Clube da Luta ataca a religião, o mundo do entretenimento e o sistema de educação americano

por Paulo Gustavo Freire (pgvarandas@yahoo.com.br)

"Talvez nossa geração tenha encontrado seu Don DeLillo” — Bret Easton Ellis

A afirmação acima reúne uma trinca de renomados escritores americanos. Foi dita por Bret Easton Ellis, autor de Psicopata Americano, refere-se à Chuck Palahniuk, o autor de Clube da Luta, e o compara com Don DeLillo, autor de Os Nomes.

Ser comparado a Don DeLillo é elogio para poucos, porém Chuck P. (como gosta de ser chamado em lembrança aos seus tempos de rapper) enquadra-se por completo. Subversivo, incisivo, revolucionário e atento à modernidade, suas obras possuem uma estrutura de protesto contra as instituições e o famoso american way of life.

Sobrevivente (Nova Alexandria, 239 pgs) é a segunda obra de Palahniuk. O mote principal segue a vida de Tender Branson, fanático pertencente a uma seita religiosa que seqüestra o vôo 2039 e narra sua história para a caixa preta. “As pessoas não querem consertar suas vidas. Ninguém quer solucionar seus problemas... Porque, caso contrário, o que restaria? Só o grande e assustador desconhecido”, explica.

Tender Branson é um sujeito excêntrico, sistemático e trabalha ensinando os patrões a como se comportar ou comer em jantares. Além disso, organiza jardins, sabe métodos excêntricos de limpeza e tem encontros semanais com uma assistente social. Fora isso, ainda tem em sua geladeira um aquário com um peixe dourado a quem dá Valium. “Este é o peixe número seiscentos e quarenta e um de uma vida inteira de peixes dourados... Seiscentos e quarenta e um peixes depois, a única coisa que sei é que tudo que você ama morrerá.” (***)

Essas são algumas das peculiaridades de Branson, que, ao decorrer da história, conta onde nasceu, quem é sua família, e porque tem o seu trabalho cotidiano. Tudo carregado com citações que deixam o leitor se perguntando o que vale a pena buscar no percurso da vida e questionando as falhas do sistema de educação, o qual ensina o homem a seguir uma estrutura repetitiva sem pensar. “Você acha que, talvez, se trabalhar mais duro e mais rápido, conseguirá evitar o caos, mas aí, um dia, você está no quintal, trocando uma lâmpada que tem uma vida útil de cinco anos e percebe que só trocará essa lâmpada mais umas dez vezes antes de morrer”, diz o personagem.

Quando Fertility Hollis, paixão platônica de Branson, aparece na história, percebemos ecos de Marla Singer. O livro ganha um humor sarcástico, devido a um dom e a um trabalho misterioso que Fertility possui. Começam a surgir surpresas e reviravoltas na trama e revelar alguma delas seria tirar o prazer do leitor. Se a primeira metade questiona o sistema de educação e o fanatismo religioso, a segunda metade dá ênfase ao mundo do entretenimento e sua forma de explorar as pessoas, o que lembra muito quando José Guber, personagem de Elogio da Mentira, de Patrícia Melo, assume a fama, encaminhado a narrativa de Branson a uma jornada vertiginosa com um final empolgante e dramático.

“Ninguém vai te cultuar se você tem os mesmos problemas, o mesmo mau hálito, cabelo e unhas ruins, de uma pessoa normal. Você precisa ser tudo o que uma pessoa normal não é. Onde elas falham, você precisa ir até o fim...”. Nessa perspectiva, quem ganha é o leitor, já que as editoras brasileiras vêm dando a devida importância às obras de Palahniuk. A Nova Alexandria editou Clube da Luta e Sobrevivente e recentemente a Rocco lançou Cantigas de Ninar (no original, Lullaby).

Chuck Palahniuk é um sujeito atípico, em suas personagens há um pouco de suas vivências. Já foi mecânico, freqüentador de academias de ginástica e de reuniões para viciados em sexo. Para conhece-lo melhor, acesse o site www.chuckpalahniuk.net, montado por fãs. Traz tudo sobre sua vida e obras, inclusive a oportunidade de comprar um documentário em DVD sobre o escritor.

Por ironia, Sobrevivente foi o primeiro livro de Palahniuk. A negação das editoras o levou a escrever um protesto, Clube da Luta. O seu livro de estréia é um budismo às avessas. Para libertar-se, chegar ao nirvana, é necessário desprender-se das coisas materiais apanhando. “I want you to hit me as hard as you can”. O prazer da dor faz os homens se sentirem mais vivos. Tyler Durden possui até sua senda óctupla. O livro, como muitos sabem, virou filme de Hollywood e suas outras obras tendem a seguir o mesmo caminho. Especula-se que Spike Jonze e Charlie Kaufman estariam adaptando Sobrevivente. Seria uma experiência e tanto. Sobrevivente é como Clube da Luta: um necessário soco na cara.

SPOILERS

Se você não leu o livro, não leia a seguir. Palahniuk conta o que pensou em termos de estrutura do final do livro: “Os livros nunca são sobre o que você pensa que são. Sobrevivente é na verdade sobre o nosso sistema de educação, porque eu sinto, com freqüência, que as crianças são meio que ensinadas ou treinadas para serem as melhores engrenagens possíveis em alguma grande máquina corporativa. Elas não são realmente ensinadas de um modo que lhes dê autoconfiança para que possam começar suas próprias companhias e, assim, gerir suas próprias vidas. Elas meio que são ensinadas apenas a serem bons funcionários, a se enquadrar”.


as (***) são uma nota minha. lendo esse pedacinho, me lembrei de uma música que tenho ouvido esses dias:

Do You Realize?
The Flaming Lips

Do You Realize - that you have the most beautiful face
Do You Realize - we're floating in space -
Do You Realize - that happiness makes you cry
Do You Realize - that everyone you know someday will die

And instead of saying all of your goodbyes - let them know
You realize that life goes fast
It's hard to make the good things last
You realize the sun don'-go down
It's just an illusion caused by the world spinning round

Do You Realize - Oh - Oh - Oh
Do You Realize - that everyone you know
Someday will die -

And instead of saying all of your goodbyes - let them know
You realize that life goes fast
It's hard to make the good things last
You realize the sun don'-go down
It's just an illusion caused by the world spinning round

Do You Realize - that you have the most beautiful face
Do You Realize