é o fim:
                     
                      
                      Por Christian                      Carvalho Cruz                    
Você vai ao barbeiro, jamais ao cabeleireiro. Compra                      suas roupas na mesma loja há anos. Não dá                      a mínima para grifes, nem sabe direito o que é                      design. Toma banho com água, sabonete (o que tiver)                      e xampu (se tiver). Creme hidratante? Nem pensar! Manicure?                      Sai fora! Calça capri? Ihhhh... Bom, talvez você                      seja um retrossexual. Criado na Inglaterra, o termo define                      um novo tipo de homem cujos padrões de consumo começam                      a chamar a atenção de marketeiros e publicitários.                      O retrossexual se opõe ao metrossexual. Este último                      é aquele camarada que perdeu a vergonha de ser vaidoso                      e tem no jogador David Beckham a sua mais completa tradução.                      O retrossexual está mais para Clint Eastwood em filme                      de Sergio Leone: ele se veste de maneira básica, é                      extremamente prático e racional na hora de fazer compras                      e de jeito nenhum encosta a barriga (ele tem barriga, sim,                      algum problema?!) no balcão do bar para pedir uma Smirnoff                      Ice. Ele vai é de uísque — duplo e sem                      gelo. Em suma, trata-se do velho macho. A palavra retrossexual,                      aliás, vem de “retrô”. Ela indica                      uma volta ao passado, um resgate dos valores masculinos tradicionais.                      No fundo, é a grande massa de consumidores homens.                      Só que até agora essa categoria não havia                      sido, digamos, catalogada. O instituto francês de pesquisas                      Ipsos acaba de concluir um estudo mundial sobre tendências                      de consumo no qual já aparece o retrossexual. “O                      conceito do metrossexual não foi algo natural. A indústria                      o empurrou de cima para baixo a fim de aumentar as vendas                      aos homens. O retrossexual surge como uma resposta espontânea                      a isso e como mais uma tentativa do homem de encontrar lugar                      num mundo cada vez mais feminino.” Seja como for, o                      que não falta é quem lucre com os verdadeiros                      machões.
A paulistana Camisaria Colombo lida com esse consumidor desde                      1917. E sabe como poucas o que ele gosta de ter no guarda-roupa:                      terno preto, cinza escuro ou azul-marinho. Camisa branca ou                      azul (o turquesa é questionável). Acessórios?                      Cinto. Nas malhas de inverno há mais ousadia –                      elas podem ser verdes e até cor-de-vinho. E chega.                      “Nosso cliente é muito prático”,                      diz Patrícia Amaro, gerente de marketing da Colombo.                      “Ele entra na loja e sabe exatamente o que quer.”                      Ao contrário do metro, o retrossexual detesta provadores.                      A Colombo não “queima” coleção                      em liquidações. O que não vendeu neste                      verão vai vender no próximo, pois a roupa do                      retrossexual é básica, demora para sair de moda.
Há um ano, também em São Paulo, a empresária                      Rosalba Ortiz teve a grande idéia de montar a Azzurro,                      uma loja 100% retrossexual. Num sobrado de 200 metros quadrados,                      ela vende presentes e utensílios de homem que é                      homem: kit churrasco, dominó, pijamas, carteiras de                      couro, cachaças, conhaques, charutos e...pochettes                      (o retrossexual é um ser prático, ora!). “É                      uma maravilha trabalhar com esse público”, diz                      Rosalba. “Ele é decidido, não se interessa                      por marcas e, se acha que determinado produto vai ser útil,                      gasta sem dó.”
Um dos principais fornecedores da Azzurro é uma empresa retrossexual por excelência: a Victorinox, que no Brasil distribui seus famosos canivetes suíços e os isqueiros Zippo, objetos que macho nenhum pode se dar o direito de não ter. “São 267 modelos de canivetes, mas 45% se concentram no mais clássico – vermelho, 91 milímetros, 23 funções”, informa Paulo Sapienza, gerente da Victorinox no País. Ele diz que no último ano e meio conseguiu um significativo aumento de vendas a partir de duas mudanças simplórias nas lojas. Passou a exibir os canivetes abertos na vitrine e aumentou o número de modelos mostrados de três para vinte. “A única necessidade do retrossexual é saber qual modelo lhe será mais útil. Se der para descobrir isso sem pedir ajuda ao balconista, melhor”, conta Sapienza.
E o carro do retrossexual? Picapes e utilitários esportivos,                      é claro. De preferência aqueles anunciados em                      comerciais com cavalos, rios e muita lama. “São                      automóveis que, antes de bonitos, precisam ser funcionais”,                      diz Luis Salem, gerente geral de marketing da Ford. “A                      Ranger, por exemplo, tem um único console central,                      bem grande, para o motorista colocar todos os seus pertences”.                      Ou seja: porta-trecos espalhados por painel, portas, sob o                      banco é coisa de metrossexual. A Nissan foi além.                      Seus dois modelos produzidos no Brasil, Frontier e Xterra,                      têm o design (ops!, a forma) inspirado em uma luva de                      boxe e uma caixa de ferramentas, respectivamente.
O retrossexual também preza muito a hereditariedade                      de certos hábitos, costumes familiares. Por isso, ele                      faz a barba à moda antiga, num demorado ritual matinal,                      como seu pai e seu avô. Aí quem manda é                      a Bozzano, da Revlon. A empresa produz creme e espuma de barbear.                      O creme, imutável há mais de 50 anos e sem nenhuma                      tecnologia, representa 80% das vendas – que cresceram                      24% em 2004. “Notamos que os homens valorizam cada vez                      mais os produtos simples”, avalia Davi Damazio, gerente                      da Bozzano. “O melhor é que eles são muito                      fiéis à marca. Dificilmente experimentam outra.”                      A fabricante também tem dois tipos de loção                      pós-barba – uma líquida, com bastante                      álcool, e outra em gel, sem álcool. O placar                      das vendas mostra 85% contra 15% a favor da com álcool.                      Sabe por quê? Ora, retrossexual que é retrossexual                      tem que sentir a pele arder, senão o produto não                      é eficaz. E estamos conversados.
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